Não escrevo para reclamar, no fundo eu concordo com a sua desistência, ela é coerente e previsível.
Você foi tão brilhante, tão sobrenaturalmente brilhante, e eu não correspondi aos seus desejos. Tampouco escrevo para me desculpar: porque a vida adulta é muito mais árida do que a sua fertilidade emocional projetava.
Com os adultos tenho me entendido bem; pois assim como a minha, a janela deles está sempre fechada, não há urso de pelúcia no quarto e inexiste outra cor além do cinza em suas largas camas, habitadas por corpos inabitados.
Se por milagre canta um pássaro, é sempre na gaiola.
Então tudo isso, todas essas palavras, cada dia mais e mais inúteis, são apenas para te dizer que, apesar de toda a sua rejeição a mim, antes de sair, eu ainda olhei para o espelho com moldura de anjo e vi você.
Vi você refletido em mim.
Como nunca deveria ter deixado
de ser.