PELE (Emanuel Galvão)
Pintura de S. Marshennikov
O coração!?...
O símbolo do amor
Ao contrário do que se imagina
Deveria ser a pele
Que ninguém sabe onde começa
A mesma que esticamos ao sol
- melanina –
Como num curtume
Que cobrimos menos por pudor
E mais por costume
Onde ficam as cicatrizes
Pele veste das meretrizes
Mercadoras de amor...
Pele símbolo de pureza
Desde a eternidade
A pele que membrana a virgindade
Fonte de beleza
Flor de liberdade
Pele que é o amor do outro lado da rua
Que não se atravessa
Por mais que se tenha vontade
Pele que repousa nua
E que o vento passeia
Sem pudor nem pressa
Que assim feito o amor
Ninguém sabe onde começa ou termina
Misteriosa tela que não se descortina
Onde se tatuam os desejos
Arranham-se fantasias
Tecido onde se enxugam os beijos
Casca em que teço minha poesia
E o vento insistente
Despudorado abusa
Membrana fina
Que reveste o corpo de uma musa